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Uma chance de mudar o Banco Mundial

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Em abril de 2009, na cúpula do G20 em Londres, europeus e norte-americanos demonstraram a intenção de parar de dividir entre si os postos de liderança do Banco Mundial e do FMI. “Concordamos que os chefes e líderes máximos das instituições financeiras internacionais deveriam ser indicados por meio de um processo seletivo aberto, transparente e baseado no mérito”, dizia a Declaração dos Líderes da cúpula. Os Estados Unidos prometeram abrir mão de seu privilégio de escolher o chefe do Banco Mundial.

Mas agora, com o anuncio que Robert Zoellick deixará o cargo no dia 30 de junho deste ano, e a necessidade de achar um novo líder, os Estados Unidos preferem um americano: Será Larry Summers, ex-secretário do Tesouro e ex-presidente de Harvard, Secretário do Tesouro Timothy Geithner ou a secretária de Estado Hillary Clinton.  Assim, rejeitam a justa reivindicação de nações emergentes, como China, Brasil e África do Sul, para que se coloque um fim a esse tradicional monopólio. Em vez de apegar-se a um privilégio que não mais se justifica, o Presidente Obama deveria indicar um não-americano de uma das potências emergentes – como China, Índia ou Brasil – para munir o Banco Mundial da legitimidade de que ele necessita para enfrentar os complexos desafios financeiros da atualidade.

Dilma Rousseff estaria certo, portanto, ao instar ao lider americano a nomear uma pessoa de um país emergente.

A intransigência dos Estados Unidos não é, de forma alguma, uma novidade: no final de 2010, líderes das potências estabelecidas resistiram longamente a uma redução de sua influência no Banco Mundial. Já passa da hora a oportunidade de um maior papel para China, Índia, África do Sul e Brasil nessa instituição.

No entanto, o Brazil deve ter consciência do fato de que mais poder significa mais responsabilidade. Entregar o posto máximo do Banco Mundial a um representante das potências emergentes forçará potências em ascensão a desempenhar um papel construtivo nas instituições internacionais. Os líderes dessas novas potências não poderão mais culpar as “instituições imperialistas do mal”, como o ex-presidente Lula fazia freqüentemente. Os novatos no palco do poder chegaram, no passado, a esconder-se algumas vezes atrás do argumento de que não haviam sido autorizadas a exercer influência – um argumento que os permitia encobrir falta de vontade política ou coragem de encarar questões internacionais complicadas. Encarar com êxito esse desafio, no entanto, permitirá às potências emergentes reforçar a legitimidade das instituições internacionais e contribuir para a solução exitosa dos mais complexos desafios atuais – não contra as potências ocidentais estabelecidas, mas com elas.

Líderes mundiais precisam criar um processo de tomada de decisões transparente e meritocrático para eleger os melhores do mundo para os postos mais elevados do planeta, independentemente do passaporte que ele ou ela carregue. Desta vez, para sinalizar que os Estados Unidos honra suas promessas, um candidato não-americano deveria ficar com o posto. O acordo de cavalheiros que deu aos EUA o direito de indicar o chefe do Banco Mundial é o remanescente de uma velha era – e o governo brasileiro deveria instar ao presidente americano a conduzir o Banco Mundial ao século 21.

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Photo credit: World Bank

SOBRE

Oliver Stuenkel

Oliver Della Costa Stuenkel é analista político, autor, palestrante e professor na Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele também é pesquisador no Carnegie Endowment em Washington DC e no Instituto de Política Pública Global (GPPi) ​​em Berlim, e colunista do Estadão e da revista Americas Quarterly. Sua pesquisa concentra-se na geopolítica, nas potências emergentes, na política latino-americana e no papel do Brasil no mundo. Ele é o autor de vários livros sobre política internacional, como The BRICS and the Future of Global Order (Lexington) e Post-Western World: How emerging powers are remaking world order (Polity). Ele atualmente escreve um livro sobre a competição tecnológica entre a China e os Estados Unidos.

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