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BRICS e a África – uma parceria para a integração e a industrialização?

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A 5a Cúpula dos BRICS em Durban, a ser realizada nos dias 26 e 27 de março, terá como foco aquilo que o ilustre clube de potências emergentes considera como o mais importante fenômeno das relações internacionais atuais: a ascensão da África. O Brasil, a Índia, a Rússia e a China estão rapidamente aumentando sua presença na África, e fundamentalmente alterando as dinâmicas do poder no continente que, no passado, foi pouco mais de que um receptor de assistência ocidental. O comércio entre os BRICS e a África deve triplicar entre 2010 e 2015, passando de US$ 150 bilhões para US$ 530 bilhões. Em 2010, a China ultrapassou os Estados Unidos como o maior parceiro comercial da África, e o Brasil e a Índia estão atualmente colocados em sexto e décimo lugares, respectivamente, na lista dos maiores parceiros comerciais do continente. “Os BRICS e a África – parcerias para a integração e a industrialização”, é o tema da 5ª Cúpula dos BRICS. Uma questão chave prevalecerá na cúpula: a promoção do desenvolvimento da infraestrutura africana através do estabelecimento de um banco de desenvolvimento liderado pelos BRICS.

A África do Sul fará todo o possível para se apresentar como uma país capaz de representar não apenas os seus próprios interesses nacionais, mas também os interesses do continente como um todo. Jim O’Neill arguiu recentemente que “a África do Sul mais do que justificaria sua presença se ajudasse o continente africano a atingir o seu extraordinário potencial”. Mas ao mesmo tempo, formuladores de políticas sul-africanos estão certamente preocupados com a possibilidade de outras nações como a Nigéria, o Egito, a Etiópia e o Quênia atingirem o nível do PIB per capita da África do Sul, fazendo com que o país já não possa mais sustentar sua posição de liderança no continente. O governo sul-africano deixou as preocupações de lado, e convidou a União Africana (UA) e economias regionais africanas a participarem das conversas, em uma jogada inteligente quando se considera que a Nigéria há muito tempo sonha em tornar-se parte do clube.

A grande pergunta, porém, é como as potências emergentes de hoje conseguem apoiar a ascensão econômica da África. Parece claro que as potências emergentes tiram imensos benefícios de seus laços econômicos com nações africanas; desde que a China tomou a liderança, a presença da Índia tem aumentado consideravelmente. O Brasil busca estabelecer laços mais fortes com países africanos não lusófonos, e até a Rússia está interessada em ganhar maior visibilidade na África. Mas as relações entre a África e os países emergentes estão longe de serem livres de problemas. A reputação da China tem sofrido em vários países africanos (o ex-presidente sul-africano Thabo Mbeki descreve a busca da China por recursos naturais na África como uma “nova forma de aventura neocolonialista”), e tanto a Índia quanto o Brasil estão cada vez mais cientes de que podem, também, ser vistos como os novos colonizadores na África.

O Banco de Desenvolvimento dos BRICS parece ser o instrumento ideal para mostrar aos líderes e aos cidadãos africanos que os BRICS buscam engajar-se na África no longo prazo, e não meramente para explorar os recursos naturais do continente. Contudo, mesmo que se crie o Banco na 5ª Cúpula em Durban, não há a menor garantia de que entrará logo em operação. Ainda existem questões importantes a serem solucionadas, tais como o local da sede, a estrutura administrativa, as práticas de empréstimos, as condicionalidades, e a liderança do Banco. Representantes brasileiros, chineses, indianos, russos e sul-africanos enfrentarão uma intensa rodada de negociações, no que será o primeiro grande teste da capacidade de cooperação dos BRICS.

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SOBRE

Oliver Stuenkel

Oliver Della Costa Stuenkel é analista político, autor, palestrante e professor na Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele também é pesquisador no Carnegie Endowment em Washington DC e no Instituto de Política Pública Global (GPPi) ​​em Berlim, e colunista do Estadão e da revista Americas Quarterly. Sua pesquisa concentra-se na geopolítica, nas potências emergentes, na política latino-americana e no papel do Brasil no mundo. Ele é o autor de vários livros sobre política internacional, como The BRICS and the Future of Global Order (Lexington) e Post-Western World: How emerging powers are remaking world order (Polity). Ele atualmente escreve um livro sobre a competição tecnológica entre a China e os Estados Unidos.

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