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Entrevista: Como funciona o soft power chinês (Nexo)

 

João Paulo Charleaux 16 Jun 2019 (atualizado 16/Jun 00h06) Oliver Stuenkel fala ao ‘Nexo’ sobre as ferramentas culturais e econômicas que a China usa para disputar influência com os EUA e as potências europeias

https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2019/06/16/Como-funciona-o-soft-power-chin%C3%AAs-segundo-este-autor

Nos anos 1990, o cientista político americano Joseph Nye cunhou o termo “soft power” (poder suave) para se referir à habilidade que um país possui de “afetar outros por meio da atração e da persuasão”. Para jogar esse jogo, um determinado país usa ferramentas culturais, como a música, o cinema, o esporte e a língua, para construir relações de empatia e de admiração nos demais. Assim, atinge mais facilmente objetivos políticos ou econômicos. O soft power não funciona sozinho. Ela é um multiplicador do “hard power” (poder duro), que é o uso da força militar e de outras ferramentas mais explícitas de pressão e de coação. A admiração que países como o Brasil têm pela cultura americana é um exemplo de soft power em ação. Os EUA são o melhor exemplo de exportação de um certo estilo de vida. Essa ferramenta cultural não é tão explícita quando se trata da China. A segunda maior economia do mundo e uma das maiores potências rivais dos americanos não exporta sua língua, seu cinema e seu modo de vida da mesma forma que as demais potências fazem. Para entender o espaço que esses conceitos ocupam na relação da China com os demais países, o Nexo entrevistou por telefone nesta quinta-feira (13) o professor de relações internacionais da FGV, Oliver Stuenkel, que é autor do livro “Brics e o Futuro da Ordem Global”. A sigla Brics se refere à inicial dos nomes dos países que compõem o bloco: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Como se expressa o soft power chinês?

OLIVER STUENKEL:  Existe uma percepção clara em Pequim de que a China não consegue competir neste momento em soft power com o Ocidente nos termos do Ocidente. A China sabe perfeitamente que a reputação dela nos EUA não é muito boa. E ela sabe também que a reputação dela na Europa é um pouco melhor do que a reputação americana, mas, ainda assim, não é a reputação de um país atraente. A fonte do soft power chinês está claramente ligada à sua capacidade de se desenvolver economicamente e de diminuir sua taxa de pobreza, o que é algo impressionante. A China ajuda outros países com grandes projetos de infraestrutura, participando como um grande investidor, um grande parceiro comercial. Agora, em função da política do [presidente dos EUA] Donald Trump, a China também busca se projetar como um provedor de bens públicos globais, como um dos países que quer colaborar para lidar com as mudanças climáticas, que apoia um sistema internacional baseado em regras e normas e que não ameaça outros países, como os EUA ameaçam o Irã, por exemplo. Então, a China, de certa maneira, busca se projetar também como um good citizen [bom cidadão] no cenário internacional. Essas são as principais fontes do seu soft power. Ainda em relação a isso, é importante remarcar que um país pode ter soft power em um lugar e não ter em outro. O governo chinês entende que o impacto de sua atuação em países em desenvolvimento é muito maior [do que em países desenvolvidos]. Sua capacidade de projetar uma imagem positiva em países em desenvolvimento é muito maior simplesmente porque a principal preocupação desses países é buscar o desenvolvimento econômico…..

Leia entrevista na íntegra aqui.

SOBRE

Oliver Stuenkel

Oliver Della Costa Stuenkel é analista político, autor, palestrante e professor na Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. Ele também é pesquisador no Carnegie Endowment em Washington DC e no Instituto de Política Pública Global (GPPi) ​​em Berlim, e colunista do Estadão e da revista Americas Quarterly. Sua pesquisa concentra-se na geopolítica, nas potências emergentes, na política latino-americana e no papel do Brasil no mundo. Ele é o autor de vários livros sobre política internacional, como The BRICS and the Future of Global Order (Lexington) e Post-Western World: How emerging powers are remaking world order (Polity). Ele atualmente escreve um livro sobre a competição tecnológica entre a China e os Estados Unidos.

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